História da Paróquia Santo Antônio
Pode-se dizer que nossa história tem longos e lindos capítulos. Desde as primeiras povoações, a Igreja se fez presente. A partir do século XVII, a região do Vale do Jequitinhonha começou a ser explorada pelos bandeirantes que garimpavam nosso ouro e diamante. Foi também, nesse período, que a Igreja passou a ter uma presença marcante nessa região. Nesse momento emergem as paróquias de Minas Novas e Berilo[1]
Sendo essa região, tipicamente semiárida, a povoação se deu às margens dos Rios Araçuaí e Jequitinhonha a fim de facilitar o cultivo da agricultura.
Quando se fala de Igreja urge que se distinga, no caso de Araçuaí, as duas instâncias da Instituição: Paróquia Santo Antônio e Diocese.
1. Paróquia Santo Antônio
A criação da Paróquia de Araçuaí não tem uma data precisa. Encontram-se algumas possíveis datas. Uma primeira possibilidade é que seria criada em três de julho de 1857.[2] outra possibilidade é a de que teria sido criada em primeiro de junho de 1850.[3] O certo mesmo é que foi criada pela arquidiocese de são Salvador, Igreja diocesana a que essa região toda pertencia[4]. Nos arquivos próprios da paróquia, percebe-se certa preferência pela primeira possibilidade.
A nova paróquia teve como primeiro pároco, o Pe. José Tiago de Siqueira[5]. Esse permaneceu na direção paroquial de 1857 a 1862.
A Igreja católica, além de se preocupar com o espiritual, sempre teve uma olhar profético para o social. Um campo de atuação pioneira foi a educação. O pioneirismo eclesial pode ser notado já na criação da Paróquia que antecedeu a emancipação política do Município e a criação da Diocese. Se a paróquia é de 03/07/1857, a emancipação política só veio em 1871.
Entre muitos que deram sua vida no serviço ao Evangelho, nesta paróquia, consta também a participação dos franciscanos. Pode-se dizer que em 1912 começa a era franciscana[6] na comunidade paroquial, quando os frades assumiram a freguesia de Santo Antônio[7]. O primeiro Pároco franciscano de Araçuaí foi o Frei José de Haas[8], nomeado pelo arcebispo de Diamantina.
A primeira contribuição institucional da igreja para a educação araçuaiense aconteceu nesse período. Em 1914, o Frei José fundou a biblioteca popular[9]. Essa tinha o objetivo de combater a leitura de maus livros. Foi uma iniciativa muito bem acolhida naquele momento. As pessoas podiam, gratuitamente, recorrer a essa biblioteca para suas leituras e pesquisas[10]. E era muito procurada.
Outra iniciativa do Frei José foi a criação do Colégio Seráfico[11] (Seminário Franciscano) de Araçuaí. Esse era destinado à formação dos frades franciscanos. Localizado no bairro Olaria, foi totalmente destruído pela enchente de 1929.
Criada por São Salvador[12], a paróquia de Araçuaí, pertenceu depois à Diamantina e, em 1913, passou a ser sede Episcopal com a criação da Diocese de Araçuaí.
2. Diocese de Araçuaí
A Diocese de Araçuaí foi criada em 25 de agosto de 1913, pela Bula APOSTILICAE SEDI, do Papa Pio X.[13] A nova Igreja Diocesana foi desmembrada da então Diocese de Diamantina.
Situada no norte oriental do Estado Minas Gerais, passou a fazer limites com as Dioceses de Montes Claros e Vitória da Conquista. Atualmente limita-se com as outras Dioceses que nasceram depois, Almenara e Teófilo Otoni.
Em setembro de 1914, foi nomeado e sagrado o primeiro bispo[14] da nova diocese: Dom Serafim Gomes Jardim[15].
O novo epíscopo veio do clero de Diamantina. Demonstrou grande zelo pastoral pelo povo pobre durante as duas enchentes[16] (1919 e 1929) que castigaram a cidade de Araçuaí.
Segundo os escritos do Frei Sabino, durante as enchentes, a Igreja tornou-se o lugar de abrigo dos pobres. Diz o frei, “Dom Serafim pisava na lama, visitando e socorrendo os desabrigados, levando sua palavra de consolo.”
Foi nesse período que se iniciou a construção da segunda catedral, uma vez que a primeira, que também era a Matriz, foi levada pela enchente.
Desde seu nascimento, a Diocese de Araçuaí teve constante preocupação com a formação religiosa, moral, intelectual e profissional do seu povo.
A preocupação supracitada com a educação teve sua primeira manifestação em 1913, por meio de um dos primeiros atos do bispo, que iniciava os trabalhos, à frente da nova instituição clerical. Com o objetivo principal em formar os futuros padres da Diocese, Dom Serafim Gomes, criou e instalou o primeiro educandário com o nome de Colégio São José.[17] Infelizmente, em 1928, a enchente engoliu as instalações desse Colégio.
Os rapazes que estudavam nesse colégio tinham notável desempenho em outros colégios na continuação dos estudos[18].
Outra grande colaboração da Igreja para a educação local foi a criação do Colégio Nazareth. Desde sua fundação, até nossos dias, dirigido e mantido pelas Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas.
Atualmente, a paróquia Santo Antônio coincide com todo o território do Município de Araçuaí, tendo 56 comunidades rurais e 22 urbanas.
A última Assembleia paroquial apontou como eixo central da pastoral paroquial a formação dos agentes de pastoral. Em reposta a tal exigência pastoral, a paróquia desenvolveu um projeto de formação de lideranças. Esse se compõe de três etapas:
1- A liderança de Jesus e a nossa na comunidade (relações interpessoais);
2- A Palavra de Deus vivida na comunidade;
3- Os documentos da Igreja (a partir do Vat II)
Em comunhão com o XI Plano Diocesano de Pastoral lutamos para sermos uma Igreja acolhedora, autossustentável, formadora e missionária.
[1] Cf. arquivo da Cúria Diocesana de Araçuaí.
[2] Cf. Livro de crônicas do Convento São Francisco das Chagas. p 134
[3] Cf. Introdução do Primeiro Livro de Tombo da Paróquia de Caraí.
[4] Cf. Introdução do Livro I de Tombo da Paróquia de Araçuaí.
[5] Segundo a introdução do primeiro livro de tombo da Paróquia de Araçuaí esse padre foi nomeado pelo arcebispo de Salvador. Pe. José Tiago de Siqueira era natural desta terra e padre secular incardinado na Arquidiocese de Salvador.
[6] Cf. PINHEIRO, João; RINALDINI, Crescênzio. DIOCESE DE ARAÇUAÍ, MG, Cúria Diocesana, 2005. p 4.
[7] Esse era o termo que se usava para referir ao território de uma paróquia. A partir do Vaticano II essas nomenclaturas desaparecem.
[8] Frei José de Haas é holandês nascido aos 4 de janeiro de 1877. Veio para o Brasil em 1906 e para Araçuaí em 1912. Quando em 1934, Dom Serafim foi transferido para Diamantina ele foi nomeado bispo de Araçuaí (Cf. Cúria Diocesana, Livro Matrícula do Clero, Nº 41,11
[9] Araçuaí In Revista Santa Cruz, Belo Horizonte, 1975. p.145.
[10] Cf. STAPHORST, Frei Sabino. Vinte e cinco anos no Brasil. Belo Horizonte: 1999. p 147.
[11] Cf. Revista Santa Cruz, Belo Horizonte: Nº 75, p 144.
[12] Cf. Primeiro Livro de Tombo da Paróquia de Araçuaí, P 01.
[13] Cf. Catálogo Diocesano. Araçuaí: Cúria Diocesana, 2005.
[14] Cf. Bula de Nomeação in Livro nº IA, Araçuaí: Cúria Diocesana, 1914, p1.
[15] Nascido aos sete de setembro de 1875, no município de Bocaiúva, naquela época pertencia a Diocese de Diamantina e atualmente a Diocese de Montes Claros. Padre secular do clero de Diamantina tendo sido ordenado sacerdote por Dom João Antônio dos Santos em 01/06/1908. Antes de se escolhido para o episcopado exerceu a função de professor do seminário, secretário do bispado e redator do jornal diocesano a Estrela Polar. Foi nomeado bispo em 12/03/1914 pela Bula Commissum humilitati Nostrae e em 1934 tomou posse como segundo arcebispo de Diamantina. (Cf. Cúria diocesana de Araçuaí, Livro Nº 41, p 01.
[16] Araçuaí foi quase toda destruída nas duas grandes enchentes que atingiram a cidade. A primeira aconteceu em 8 de janeiro de 1919. A segunda foi em 9 de janeiro de 1928 quando as águas subiram cinco metros a mais que a primeira. Todos os prédios danificados e muitos destruídos. A Igreja teve o colégio São José, a casa do bispo e a Matriz que era também a catedral foram destruídos. Nessa enchente, as água tomaram os paramentos, a imagem do Senhor Morto e um valioso cálice da Igreja. Fato notável é que o senhor morto foi encontrado na barra do pontal sem se quer perder os cabelos da toca da imagem e o cálice encontrado num telhado de um prédio. A partir desse acontecimento o Frei José de Haas e o Bispo Dom Serafim decidiram mudar de lugares ao reconstruírem a Matiz e a Catedral.
(Cf. LETÂNCIO. Meu doce Brasil. In Revista Santa Cruz, Belo Horizonte, 1962. p 29-30; 104-108. e Cf. WENCESLAU. “In Memoriam” de José de Haas. In Revista Santa Cruz, Belo Horizonte, 1956. p 83)
[17] SOARES, Elmo. Educação e Formação na Sede da Diocese de Araçuaí. Araçuaí: Cúria Diocesana de Araçuaí, 2006, p 01.
[18] PINHEIRO, João; RINALDINI, Crescênzio. DIOCESE DE ARAÇUAÍ – MG, Cúria Diocesana, 2005, p 4.
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