O eletricista Naka explica porque resolveu registrar os apelidos de Araçuaí
O
nome é Araçuaí, mas também pode ser Kiau ou “Mirréis Veio”, apelidos
que a cidade ficou conhecida. “Kiau”, devido as pedras “ calhau”, que
calçaram o centro antigo e também uma referência ao córrego Calhauzinho,
que corta a cidade e “Mirréis Veio”, numa alusão ao Mil Réis, unidade
monetária que circulou nos anos 30 a 40.
A história
está repleta de apelidos. Gente famosa como Tiradentes, Águia de Haia
(Machado de Assis) Xuxa, entre outros são mais conhecidos pelos
apelidos.
Movido pela curiosidade, Aguinaldo Silva,
que não é escritor de novelas, mas o eletricista Naka, 63 anos, nascido e
criado na região da baixada de Araçuaí, no Médio Jequitinhonha,
nordeste de Minas, resolveu catalogar os apelidos mais conhecidos da
cidade.
Foi uma pesquisa de mais de 10 anos. Qual foi sua surpresa, ao se deparar com mais de mil, incluindo o seu.
“Poucas
pessoas sabem que eu me chamo Aguinaldo. Meu irmão mais velho que
colocou quando éramos criança. Já teve situações de alguém gritar “ó
Aguinaldo e eu continuar andando. Acho que até eu me esqueci que chamo
Aguinaldo”, brinca o eletricista.
“Às vezes no meio da
noite eu acordava e lembrava de um apelido e acrescentava. Ricos e
pobres, pretos e brancos, gente que já morreu. Ninguém escapou".
Há
os mais famosos, conhecidos de todos como Breado, Zé da Venda, Merita
Mocó, Otávio Lacrão, Careca, Xapeta, Pequi, Bocão, To Bufão,Maria
Pretinha, Santa Rapé, Loquinha, Santo Peba, Moqueca,Papagaio,
Pernambuco, Bonitinho, Coqueiro, Carrim Chaleira, Netércio Troção,
figuram na lista .
“Deveria ter uma lista
telefônica com os apelidos. Tem muita gente que não sabe o nome
verdadeiro das pessoas aqui na cidade”, defende o eletricista.
Mas
afinal, o que é apelido? Para os folcloristas é toda expressão usada
para uma determinada criatura com a finalidade de aumentar ou
diminuir-lhe as qualidades ou defeitos. Há sempre uma razão de ser do
apelido que acompanha seu dono muitas vezes desde a infância.
Nem os santos escapam. São Pedro, é o chaveiro do céu, São João é fogueteiro e Santo Antônio, casamenteiro.
Muitas
vezes os apelidos estão ligados à família ou a profissão, como os “
Periquitos”, Os Mané Véi, os Barriga Suja, os Pá Bosta, os Baú, os
Batatinhas, os Mastiga, os China, entre outros.
Para
Naka, não adianta se aborrecer com os apelidos recebidos porque senão, a
emenda fica pior que o soneto. É como aquela história de um sujeito que
se chamava João e tinha no fundo do quintal um enorme coqueiro. Todos o
conheciam como João Coqueiro. Irritado, mandou cortar o coqueiro,
deixando apenas parte dele. Não demorou muito e passaram a lhe chamar de
João-do-toco. Arrancou o toco, deixou um buraco, tapou o buraco,
plantou outra árvore. À medida que os fatos aconteciam, os apelidos
apareciam. Teve de mudar de cidade.
Em Araçuaí, o
jovem atleta é mais conhecido por Coqueiro. Diferente do João Coqueiro,
ele não se importa com o apelido, recebido devido à sua altura. Jogador
de vôlei, já ganhou várias medalhas e troféus.
Texto e foto de Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí, em 01.12.2009
Texto e foto de Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí, em 01.12.2009
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